Diretoria de Ensino Região de São Bernardo do Campo
EE OMAR DONATO BASSANI
LITERATURAS DE LÍNGUAS PORTUGUESA.
Adeus.
Sim, a nova hora é, pelo menos, assaz severa.
Pois já posso afirmar que alcancei vitória: o ranger de dentes, o silvo do fogo, os
suspiros pestilentos moderam-se. Apagam-se todas as lembranças sórdidas. Evolam-se as derradeiras queixas, - ciúme dos mendigos, dos salteadores, dos amigos
da morte, dos excluídos de todas as espécies. - Condenados, se eu me vingasse!
Cumpre ser absolutamente moderno.
Nada de cânticos: manter a posição conquistada. Noite de pedra! O sangue seco
suja-me o rosto, e não posso contar com coisa alguma atrás de mim, a não ser este
horrível arbusto!... O combate espiritual é tão brutal quanto a batalha dos homens;
mas a visão da justiça é unicamente o prazer de Deus.
Entretanto, é chegada a véspera. Recebamos todos os influxos do vigor e da ternura verdadeira. E, à aurora, revestidos de ardente paciência, entraremos as esplêndidas cidades.
Que dizia eu de mão amiga! Já é imensa vantagem poder sorrir dos velhos amores mentirosos e envergonhar essas duplas de embusteiros - vi lá longe o inferno das mulheres; - e ser-me-á dado possuir
a verdade numa alma e num só corpo.
(Abril - Agosto, 1873)
Arthur Rimbaud
(1854-1891)
poeta francês
Após a leitura, reponda.
a) O que Rimbaud propõe neste fragmento de sua obra “Uma estação no inferno”, ao dizer que é preciso ser “absolutamente moderno”?
b) No texto, percebe-se um certo tom de ruptura com o passado, com a tradição. Sendo assim, essa busca pelo “novo”, com a negação do que é considerado “antigo”, influenciou (e continua influenciando) a construção do mundo atual? Justifique.
c) Descreva o que podem significar as expressões “noite de pedra”, “horrível arbusto” e “manter a posição conquistada”?
LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA
O texto que você irá ler é um poema escrito em Língua Portuguesa, representativo ao Continente Africano: Cabo Verde. Quando nos referimos à literatura de língua portuguesa, a primeira ideia que nos vem é o que foi escrito em Portugal (literatura portuguesa) ou no Brasil (literatura brasileira). Mas, e os outros países que têm o português como língua oficial?
Canção ao Mar (Mar Eterno) – Eugénio Tavares
Oh mar eterno sem fundo sem fim
Oh mar das túrbidas vagas oh! Mar
De ti e das bocas do mundo a mim
Só me vem dores e pragas, oh mar
Que mal te fiz oh mar, oh mar
Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar
Quebrando as ondas tuas
De encontro às rochas nuas
Suspende a zanga um momento e escuta
A voz do meu sofrimento na luta
Que o amor ascende em meu peito desfeito
De tanto amar e penar, oh mar
Que até parece oh mar, oh mar
Um coração a arfar, a arfar
Em ondas pelas fráguas
Quebrando as suas mágoas
Dá-me notícias do meu amor
Que um dia os ventos do céu, oh dor
Os seus abraços furiosos, levaram
Os seus sorrisos invejosos roubaram
Não mais voltou ao lar, ao lar
Não mais o vi, oh mar
Mar fria sepultura
Desta minha alma escura
Roubaste-me a luz querida do amor
E me deixaste sem vida no horror
Oh alma da tempestade amansa
Não me leves a saudade e a esperança
Que esta saudade é quem, é quem
Me ampara tão fiel, fiel
É como a doce mãe
Suavíssima e cruel
Nas mágoas desta aflição que agita
Meu infeliz coração, bendita!
Bendita seja a esperança que ainda
Lá me promete a bonança tão linda!
Após a leitura, reponda.
a) Sobre a estrutura do poema, quantos versos e estrofes ele possui?
b) Caracterize, a partir do que é apresentado pelo poema, o eu lírico e seu possível
interlocutor. Qual(is) a(s) intenção(ões) do eu lírico?
c) Que sentimento o eu lírico evoca ao longo do poema e qual é a súplica dirigida ao mar?
d) Nas expressões “oh mar”, “oh dor”, “oh alma”, qual é o efeito de sentido produzido?
e) Na 4ª estrofe, explique a utilização da palavra “fraguas”.
f) Por que o mar está zangado? Por que o eu lírico pede a ele: “suspende a zanga um
momento e escuta a voz do meu sofrimento”?
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